segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Região Uva e Vinho – Experimente!

Um exemplo de experiência turística que demonstra como a simplicidade, o pouco investimento e a valorização da história são capazes de emocionar e surpreender os visitantes.

Situada ao nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha começou a ser povoada a partir de 1850, com a chegada dos primeiros imigrantes europeus ao estado. Oriundos em sua maioria da Alemanha, esses colonizadores logo se estabeleceram nas encostas da serra, dando origem aos rústicos vilarejos que formariam mais tarde as cidades de Gramado, Canela e Nova Petrópolis.

A partir de 1875, foi a vez dos imigrantes italianos desembarcarem no local. Avançando em direção a áreas mais altas – uma vez que as encostas já haviam sido ocupadas – os italianos rapidamente criaram os seus próprios povoados, aos quais carinhosamente deram o nome de “Pequena Itália” – local onde hoje estão situados os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi, Caxias do Sul, Nova Prata, Veranópolis, entre outros.
Assim, familiarizados com o clima subtropical da região, e favorecidos pela altitude e pelo solo fértil, os colonizadores puderam colocar em prática os seus tradicionais conhecimentos acerca do cultivo da uva, de modo que a típica paisagem européia da Serra Gaúcha foi logo complementada pela verdejante presença de enormes extensões de parreirais – símbolo maior da colonização italiana no estado.

Com o passar do tempo, portanto, o empreendedorismo característico deste povo fez com que o cultivo artesanal da uva fosse evoluindo para modernas tecnologias de produção, o que assegurou à região uma posição de destaque na economia nacional, oferecendo ao mercado diferentes variedades de uva, sucos, vinhos de mesa, varietais e espumantes.


Economia da Experiência



Assim, em virtude de sua característica marcadamente empreendedora, e por possuir uma forte tendência para atuar coletivamente em projetos que estimulem o desenvolvimento econômico e social, a Região Uva e Vinho foi escolhida, em 2006, para ser o primeiro destino brasileiro a receber o Projeto Economia da Experiência.


Como referimos acima, devido a sua peculiaridade cultural, o turismo sempre fez parte da história da Pequena Itália – ou, como a denominamos atualmente, Região Uva e Vinho. Há muito que visitantes de todas as partes são atraídos pelo clima frio, pela cultura e pela paisagem exuberante do local, com seus vales, campos, plantações e matas nativas.

Nesse sentido, o meio rural – representado principalmente pela produção vinícola – foi, sem dúvida, um dos embriões do processo de desenvolvimento turístico na região. Afinal, o histórico romantismo associado ao vinho, aliado à hospitalidade do povo serrano, foram elementos capazes de proporcionar aos visitantes um contato único com o modo de vida simples do interior.
No entanto, para que todo este potencial se consolidasse de maneira definitiva, formando um “destino turístico competitivo”, era preciso ainda que seus atrativos desenvolvessem uma série de qualidades diferenciais, afinadas, é claro, com as novas demandas dos turistas. Por isso, de maio de 2006 a fevereiro de 2007, o projeto Economia da Experiência foi implantado na região.

O desafio deste projeto pioneiro era orientar os empreendedores no sentido de uma readequação estrutural de produtos e serviços. E tal readequação, como dissemos anteriormente, passava sobretudo pelo estímulo ao desenvolvimento de ofertas que levassem em consideração as emoções, as sensações, as heranças culturais e as opções pessoais dos turistas.

Assim, através de uma parceria entre o Ministério do Turismo, SEBRAE e Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares da Região da Uva e do Vinho, sob a gestão do Instituto Marca Brasil, o projeto Economia da Experiência na Região Uva e Vinho contou com a adesão de 72 empreendimentos pertencentes a oito municípios, envolvendo micro e pequenas empresas já estruturadas e integradas ao mercado turístico.


Experiências

Na verdade, tratou-se de um trabalho desafiante e instigante, tanto paras as equipes de execução, gestão, consultoria técnica e consultores especialistas, quanto para os 72 empreendedores, que acreditaram e apostaram na idéia de transformar a região da Uva e do Vinho em um verdadeiro cenário de encantamento, repleto de agradáveis surpresas e emoções memoráveis.

Em linhas gerais, os empresários foram estimulados a repensar seus produtos e serviços, elaborando uma série de inovações que fossem capazes de “superar as expectativas dos turistas”. Para isso, eles receberam o apoio técnico necessário, o que facilitou a implementação de tais inovações através da abertura de novos canais de comercialização e do fortalecimento de uma rede de empresas.

Logo, isso acarretou o envolvimento de diversos grupos culturais no processo, o que conferiu uma maior visibilidade à cultura regional e permitiu aos turistas uma participação mais ativa no contato com os atrativos do destino, gerando uma maior satisfação por parte dos consumidores e incrementando o desenvolvimento econômico e social da região.

Em síntese, a implantação pioneira do Projeto Economia da Experiência na Região Uva e Vinho demonstrou as vantagens e os resultados de ações articuladas e o êxito do projeto desenvolvido. O resultado foi uma nova dinâmica de desenvolvimento do turismo, fazendo com que atores locais da cadeia produtiva do turismo, com maior ênfase na produção associada, inovassem e incrementassem sua oferta turística.


Revivendo o sonho dos imigrantes



Uma das experiêncas de destaque elaboradas por meio do Projeto na Região Uva e Vinho foi o “Filó Italiano da Vila Flores – Revivendo o sonho dos imigrantes”.

A palavra filó origina-se do trabalho artesanal de fiação que as mulheres faziam nos encontros, ainda na Itália, nos estábulos, nas noites longas de inverno, para repartir a comida, o calor e economizar energia, pois até a lenha devia ser poupada.

Aqui no sul, o imigrantes acabaram fortalecendo essa atividade, pois se reuniam com o objetivo de diminuir a solidão e a saudade da Pátria e dos familiares. Saíam de suas casas cantando felizes, com um lampião para iluminar o caminho, e ao mesmo tempo cantando para espantar o medo dos animais, o medo da floresta, e também para que os vizinhos ouvissem e se juntassem a eles.

No Filó, após a reza do terço, os homens iam para um ambiente para jogar, beber vinho, confeccionar instrumentos de trabalho e contar causos. As mulheres iam para outro ambiente, onde falavam sobre a família, fiavam linho, trançavam cestas de palha e bordados. Nestes encontros, todos comiam pinhão, polenta, batata doce, amendoim, pipoca, fregolá e o bom vinho.

Assim, estimulados pelo Projeto Economia da Experiência, e movidos pela nostalgia da autêntica cultura dos imigrantes, um grupo de voluntários da localidade de Vila Flores resolveu resgatar a realização do famoso filó italiano.

Lá, os turistas são recebidos à luz de lampiões, e introduzidos em um ambiente previamente preparado, para logo serem envolvidos em um momento mágico de oração, cultura, diversão, emoção, além de uma volta ao passado, trazendo para o presente uma história de vida que não podemos esquecer.

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